As exportações brasileiras atingiram, em setembro, a marca de US$ 1 bilhão por dia útil na parcial do ano, segundo informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
As vendas externas brasileiras somaram US$ 190 bilhões em 189 dias úteis - nos nove primeiros meses deste ano. Na parcial deste ano, até o fim de agosto, o valor ainda não havia sido atingido, uma vez que as exportações haviam somado US$ 166,7 bilhões em 168 dias úteis, uma média diária de US$ 992 milhões por dia, segundo números do governo.
Histórico e comparação internacional
A série histórica da balança comercial, disponibilizada pelo Ministério do Desenvolvimento, revela que o crescimento das exportações, pela média diária (critério considerado mais adequado por especialistas), foi de 330% nos últimos dez anos. Em 2001, a média diária de vendas externas brasileiras somava US$ 233 milhões.
O patamar de US$ 500 milhões só foi atingido em 2006 (US$ 553 milhões por dia útil). Em 2009, com a primeira etapa da crise financeira internacional, as exportações caíram 21,7%, para US$ 612 milhões por dia útil, contra US$ 782 milhões em 2008. No ano passado, as exportações voltaram a subir, totalizando US$ 804 milhões de média diária.
Apesar do crescimento registrado nos últimos anos, os números mostram que o Brasil ainda está distante dos países que mais transacionam no mercado externo. A China, por exemplo, que concentra cerca de 10% do comércio mundial, exportou US$ 1,57 trilhão em 2010 - o que daria uma média diária, pelo calendário brasileiro, de US$ 6,5 bilhões em vendas externas.
Os Estados Unidos, por sua vez, cuja participação no comércio mundial somou 8,3% no ano passado, exportou US$ 1,28 trilhão em 2010 - o que daria uma média por dia útil, pelo calendário brasileiro, de US$ 5,3 bilhões no último ano.
Bons números mascaram problemas
Segundo especialistas, o crescimento das vendas externas neste ano, porém, mascara problemas. Isso porque o resultado de 2011 está inflado pelo aumento dos preços das "commodities" (produtos básicos com cotação internacional, como minério de ferro, alimentos e petróleo, entre outros).
Com a alta destes preços no fim do ano passado e começo deste ano, que também acabou por impulsionar a inflação no Brasil, os exportadores de produtos básicos ganharam mais por suas vendas sem necessariamente elevar o volume exportado.
Um bom exemplo é o petróleo, cujo volume exportado caiu 1% até setembro, mas, amparadas por um aumento de 40% no preço, as exportações subiram 39% neste ano. No caso do minério de ferro, as vendas externas subiram 60% neste ano por conta do aumento de 51% no preço do produto e de 6% na quantidade exportada. O mesmo ocorre com a soja, o café, o milho, que têm suas exportações sustentadas principalmente pelos preços altos em 2011.
"O preço das 'commodities' foi o principal fator que ajudou a atingir a marca diária de US$ 1 bilhão em exportações. Mas as vendas de manufaturados [que subiram 18,4% até setembro], estão acima da média mundial", disse o secretário-executivo-adjunto do Ministério do Desenvolvimento, Ricardo Schaefer.
Desindustrialização?
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) avalia que seria "inevitável alguma elevação na importância relativa dos bens primários devido a um efeito puramente de preços", mas alerta que a “primarização” da pauta exportadora brasileira ocorre não somente pela supervalorização das "commodities", mas também por um "colapso" da capacidade brasileira de colocar sua produção nos mercados externos e interno.
O Iedi acha necessário que o país desenvolva um "programa de reindustrialização". Para o consultor do Iedi, Júlio Sérgio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, o programa "Brasil Maior", que desonera a folha de pagamento de alguns setores e oferece outros benefícios para os exportadores, ainda não é suficiente para resolver o problema de competitividade das empresas brasileiras contra o resto do mundo.
"A ideia de reindustrialização é aproveitar o benefício dos recursos que vêm da venda de primários [produtos básicos] para reforçar a base da transformação. Teria que fazer muito mais [do que o Brasil Maior]. Vemos o 'boom' das commodities como um bem que pode propiciar e melhorar as condições de competitividade do produto transformado e gerar mais empregos. O melhor é ter o equilíbrio na pauta. Se temos a possibilidade de produzir e exportar primários e industrializados, que tenhamos os dois. A 'dobradinha' é que é o ideal. Se um estiver não estiver bem, o outro compensa", declarou o economista.
Segundo o consultor do Iedi, problemas estruturais da economia brasileira, como a alta taxa de juros e o dólar (apesar da alta recente) baixo, ainda são entraves para a indústria. "O governo pode atuar com financiamento e ajudar na formação de mão de obra. A indústria, devido aos altos custos e produtividade deficiente, está perdendo terreno e isso pode gerar desindustrialização lá na frente, que é a perda da capacidade da indústria de contribuir para o crescimento do país. É um processo que virá se nada for feito", avaliou Almeida.
Perspectiva para 2012
José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que o Brasil tem de comemorar a marca dos US$ 1 bilhão de média diária de exportações que está sendo atingida neste ano. Entretanto, pondera que o resultado não foi fruto de ações do governo brasileiro, e sim do cenário internacional - que gerou alta dos preços das "commodities".
"Tem que se comemorar [a marca de US$ 1 bilhão por dia exportados]. Mas, basicamente, não foi Brasil que provocou isso. Decorre do cenário internacional e não foi programado. A meta de exportações do governo, no começo do ano, era de US$ 225 bilhões. Depois passou para US$ 245 bilhões e agora está em US$ 257 bilhões. O próprio governo não previa isso. O Brasil apenas aproveitou", disse José Augusto.
Segundo o economista, o mesmo cenário, entretanto, não deve se repetir em 2012. Com a crise financeira internacional, explicou ele, os preços das "commodities" devem cair, assim como a demanda por outros produtos. "Em 2012, os preços vão cair e os valores das exportações também. E o governo, que nada fez para aumentar as exportações neste ano, nada vai fazer para evitar a queda [em 2012]", declarou ele.
O vice-presidente da AEB acrescentou que o cenário internacional ainda é incerto, mas disse que, se tivesse de fazer uma avaliação, projetaria uma queda de 20% a 30% nas exportações no próximo ano. "As exportações com certeza caem. A dúvida é quanto vão cair", disse Castro.
Ele analisou, porém, que o cenário do próximo ano pode melhorar um pouco a perspectiva para as vendas externas de produtos manufaturados. "Teoricamente, com um menor ingresso de capital no Brasil e juros menores, não atraindo tanto capital, o câmbio [dólar] pode subir, o que poderia aumentar a venda de manufaturados. Mas estaremos em crise, com comércio menor. Tem melhor preço [pela alta do dólar], mas pode não ter comprador", explicou o vice-presidente da AEB.
As vendas externas brasileiras somaram US$ 190 bilhões em 189 dias úteis - nos nove primeiros meses deste ano. Na parcial deste ano, até o fim de agosto, o valor ainda não havia sido atingido, uma vez que as exportações haviam somado US$ 166,7 bilhões em 168 dias úteis, uma média diária de US$ 992 milhões por dia, segundo números do governo.
Histórico e comparação internacional
A série histórica da balança comercial, disponibilizada pelo Ministério do Desenvolvimento, revela que o crescimento das exportações, pela média diária (critério considerado mais adequado por especialistas), foi de 330% nos últimos dez anos. Em 2001, a média diária de vendas externas brasileiras somava US$ 233 milhões.
O patamar de US$ 500 milhões só foi atingido em 2006 (US$ 553 milhões por dia útil). Em 2009, com a primeira etapa da crise financeira internacional, as exportações caíram 21,7%, para US$ 612 milhões por dia útil, contra US$ 782 milhões em 2008. No ano passado, as exportações voltaram a subir, totalizando US$ 804 milhões de média diária.
Apesar do crescimento registrado nos últimos anos, os números mostram que o Brasil ainda está distante dos países que mais transacionam no mercado externo. A China, por exemplo, que concentra cerca de 10% do comércio mundial, exportou US$ 1,57 trilhão em 2010 - o que daria uma média diária, pelo calendário brasileiro, de US$ 6,5 bilhões em vendas externas.
Os Estados Unidos, por sua vez, cuja participação no comércio mundial somou 8,3% no ano passado, exportou US$ 1,28 trilhão em 2010 - o que daria uma média por dia útil, pelo calendário brasileiro, de US$ 5,3 bilhões no último ano.
Bons números mascaram problemas
Segundo especialistas, o crescimento das vendas externas neste ano, porém, mascara problemas. Isso porque o resultado de 2011 está inflado pelo aumento dos preços das "commodities" (produtos básicos com cotação internacional, como minério de ferro, alimentos e petróleo, entre outros).
Com a alta destes preços no fim do ano passado e começo deste ano, que também acabou por impulsionar a inflação no Brasil, os exportadores de produtos básicos ganharam mais por suas vendas sem necessariamente elevar o volume exportado.
Um bom exemplo é o petróleo, cujo volume exportado caiu 1% até setembro, mas, amparadas por um aumento de 40% no preço, as exportações subiram 39% neste ano. No caso do minério de ferro, as vendas externas subiram 60% neste ano por conta do aumento de 51% no preço do produto e de 6% na quantidade exportada. O mesmo ocorre com a soja, o café, o milho, que têm suas exportações sustentadas principalmente pelos preços altos em 2011.
"O preço das 'commodities' foi o principal fator que ajudou a atingir a marca diária de US$ 1 bilhão em exportações. Mas as vendas de manufaturados [que subiram 18,4% até setembro], estão acima da média mundial", disse o secretário-executivo-adjunto do Ministério do Desenvolvimento, Ricardo Schaefer.
Desindustrialização?
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) avalia que seria "inevitável alguma elevação na importância relativa dos bens primários devido a um efeito puramente de preços", mas alerta que a “primarização” da pauta exportadora brasileira ocorre não somente pela supervalorização das "commodities", mas também por um "colapso" da capacidade brasileira de colocar sua produção nos mercados externos e interno.
O Iedi acha necessário que o país desenvolva um "programa de reindustrialização". Para o consultor do Iedi, Júlio Sérgio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, o programa "Brasil Maior", que desonera a folha de pagamento de alguns setores e oferece outros benefícios para os exportadores, ainda não é suficiente para resolver o problema de competitividade das empresas brasileiras contra o resto do mundo.
"A ideia de reindustrialização é aproveitar o benefício dos recursos que vêm da venda de primários [produtos básicos] para reforçar a base da transformação. Teria que fazer muito mais [do que o Brasil Maior]. Vemos o 'boom' das commodities como um bem que pode propiciar e melhorar as condições de competitividade do produto transformado e gerar mais empregos. O melhor é ter o equilíbrio na pauta. Se temos a possibilidade de produzir e exportar primários e industrializados, que tenhamos os dois. A 'dobradinha' é que é o ideal. Se um estiver não estiver bem, o outro compensa", declarou o economista.
Segundo o consultor do Iedi, problemas estruturais da economia brasileira, como a alta taxa de juros e o dólar (apesar da alta recente) baixo, ainda são entraves para a indústria. "O governo pode atuar com financiamento e ajudar na formação de mão de obra. A indústria, devido aos altos custos e produtividade deficiente, está perdendo terreno e isso pode gerar desindustrialização lá na frente, que é a perda da capacidade da indústria de contribuir para o crescimento do país. É um processo que virá se nada for feito", avaliou Almeida.
Perspectiva para 2012
José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que o Brasil tem de comemorar a marca dos US$ 1 bilhão de média diária de exportações que está sendo atingida neste ano. Entretanto, pondera que o resultado não foi fruto de ações do governo brasileiro, e sim do cenário internacional - que gerou alta dos preços das "commodities".
"Tem que se comemorar [a marca de US$ 1 bilhão por dia exportados]. Mas, basicamente, não foi Brasil que provocou isso. Decorre do cenário internacional e não foi programado. A meta de exportações do governo, no começo do ano, era de US$ 225 bilhões. Depois passou para US$ 245 bilhões e agora está em US$ 257 bilhões. O próprio governo não previa isso. O Brasil apenas aproveitou", disse José Augusto.
Segundo o economista, o mesmo cenário, entretanto, não deve se repetir em 2012. Com a crise financeira internacional, explicou ele, os preços das "commodities" devem cair, assim como a demanda por outros produtos. "Em 2012, os preços vão cair e os valores das exportações também. E o governo, que nada fez para aumentar as exportações neste ano, nada vai fazer para evitar a queda [em 2012]", declarou ele.
O vice-presidente da AEB acrescentou que o cenário internacional ainda é incerto, mas disse que, se tivesse de fazer uma avaliação, projetaria uma queda de 20% a 30% nas exportações no próximo ano. "As exportações com certeza caem. A dúvida é quanto vão cair", disse Castro.
Ele analisou, porém, que o cenário do próximo ano pode melhorar um pouco a perspectiva para as vendas externas de produtos manufaturados. "Teoricamente, com um menor ingresso de capital no Brasil e juros menores, não atraindo tanto capital, o câmbio [dólar] pode subir, o que poderia aumentar a venda de manufaturados. Mas estaremos em crise, com comércio menor. Tem melhor preço [pela alta do dólar], mas pode não ter comprador", explicou o vice-presidente da AEB.
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